Minas de Angola
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MINERAÇÃO EM ANGOLA NUMA ERA DE REINVENÇÃO – OPINIÃO DE JOSÉ BIZARRO

O sector da mineração é, muitas vezes, considerado relativamente simples, com cadeias de valor integradas e um forte controlo sobre muitas das suas variáveis de produção.
Será assim por muito tempo?

Muitas são as empresas mineiras que ainda têm uma visão convencional, profundamente enraizada, do sector e do ambiente em que operam. Embora tenha servido no passado, é menos provável que funcione no futuro. As empresas de mineração já não podem dar-se ao luxo de ignorar o papel que desempenham, num ecossistema económico, social e tecnológico muito maior, que cresce e se torna mais complexo a cada dia.

A era dos minerais críticos chegou e esta é a mudança mais importante que a indústria da mineração assistiu em décadas. Globalmente, a transição energética, urgente e necessária, exigirá investimentos adicionais em tecnologia que podem chegar a 5 triliões de dólares por ano, um enorme desafio, com inúmeras oportunidades também para Angola. As empresas já não podem depender dos actuais portefólios e das prácticas do passado para a criação de valor. É urgente diversificar as actividades para agarrar as oportunidades e desafios futuros.
Os CEO do sector mineiro parecem saber disso e, de acordo com o 26.º Global CEO Survey da PwC, 41% não considera que as suas empresas sejam economicamente viáveis em dez anos se continuarem no actual caminho.

A PwC partilhou recentemente o estudo “Mine 2023”, que analisa as principais tendências e o desempenho das 40 maiores empresas de mineração no mundo. O relatório deste ano, que tem como tema “A era da reinvenção”, mostra como estas empresas já se estão a adaptar a alguns dos desafios e oportunidades da transição energética, da digitalização, da sustentabilidade e da inovação. Isso tem implicações na actuação dos Governos, na melhor gestão da sustentabilidade, no mix de receitas das empresas, nos investimentos a serem efectuados e na gestão de talentos.

Por parte dos Governos, têm vindo a ser criadas alianças, ao nível operacional, tecnológico e de inovação, instituindo novas políticas e mobilizando financiamento para garantir o melhor acesso aos minerais críticos. Os Governos procuram reconfigurar o cenário competitivo para responderem à crescente procura por esta tipologia de minerais e procurando mitigar os riscos, existentes e potenciais, associados às cadeias de abastecimento.

No que respeita à sustentabilidade, as empresas de mineração, conscientes da necessidade de aumentar a sua extracção e produção para satisfazer a crescente procura por minerais críticos e outros minerais, sabem também que devem reduzir as suas próprias emissões de carbono. Mais de um terço dos CEO do sector mineiro considera a sua empresa altamente ou extremamente exposta a riscos relacionados com o clima. A boa notícia é que a descarbonização pode ajudar as empresas do sector a criar valor em todos os pontos da cadeia de valor. Cada vez mais, vemos empresas a aumentarem a sua eficiência através de tecnologias de baixo carbono, a estabelecerem parcerias para produzirem os chamados “metais verdes” e a obterem financiamento directamente relacionado a indicadores de sustentabilidade.

No que respeita ao mix de receitas provenientes das matérias-primas minerais, o das 40 maiores empresas mineiras no mundo alterou-se e o carvão é o maior contribuinte para as receitas do Top 40 pela primeira vez desde 2013, um sinal de que o carvão ainda tem um papel relevante na satisfação das necessidades energéticas mundiais. No entanto, a trajectória de longo prazo do carvão é claramente descendente.

No que respeita a investimentos e transacções, os minerais críticos dominaram a actividade de em 2022, à medida que as grandes e pequenas empresas de mineração se tentam reposicionar para a transição energética. As líderes estão com urgência para adquirirem os melhores activos para impulsionar muito o crescimento futuro das suas empresas.

No que se refere à escassez de talentos, assume-se como um desafio quase existencial.
As empresas procuram atrair mais trabalhadores, incluindo aqueles com as competências tecnológicas mais cobiçadas, para alcançarem os seus objectivos estratégicos. No entanto, muitos não consideram esta indústria atraente, inclusive em Angola. É necessário repensar as estratégias de gestão de talentos para atrair mais pessoas para o sector e, especialmente, pessoas que tenham competências para trabalhar com tecnologias mais avançadas, essenciais para as operações mineiras modernas.

Num estudo recente, realizado pelo Conselho de Recursos Humanos da Indústria Mineira do Canadá, 70% dos jovens, entre os 15 e os 30 anos, referiram que não consideraram uma carreira no sector da mineração.

Recentemente, tive a oportunidade de ser orador no fórum em Angola sobre “os Desafios e oportunidades da transição energética da mineração em Angola”, e procurei mostrar que a procura por minerais críticos está, de facto, a aumentar "de forma galopante", sem estar a ser acompanhada pela oferta, criando assim uma "enorme oportunidade" para Angola se posicionar como um interveniente crítico neste sector.

O país é considerado importante na indústria de energia, enquanto produtor e participante na extracção, mas Angola não pode ficar apenas pela matéria-prima, tem de se posicionar nas componentes para as baterias eléctricas, células solares e transformar, criar riqueza e saber aproveitar o potencial de uma comunidade jovem como a de Angola. O potencial de Angola deve ir para além da indústria extractiva primária e crescer para outras componentes da cadeia de valor, criando mais empregos e deixando maior valor acrescentado no país.

Segundo o MIREMPET, são conhecidos em Angola 36 dos 51 minerais considerados mais críticos a nível mundial, alguns dos quais prestes a entrar em produção, um enorme potencial para Angola, que dispõe de reservas de vários minérios, de boa qualidade e suficientes para viabilizar o desenvolvimento de uma indústria de dimensão significativa.

Todas estas tendências irão obrigar a alterações consideráveis da estratégia empresarial das empresas do sector da mineração, e as de Angola não serão excepção.

Os gestores terão de conhecer estas tendências, identificar as oportunidades de crescimento e de financiamento, criar parcerias com Governos, relatar efectivamente as suas prácticas de sustentabilidade e contratar e formar uma força de trabalho cada vez mais tecnológica tornando o sector atractivo para a carreira dos jovens.

Por: José Bizarro Duarte

Assurance Partner, PwC.

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A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.

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