Fundada há mais de 27 anos, a Sociedade Mineira de Chitotolo é das poucas que, apesar das adversidades do mercado, tem conseguido manter, sem interrupção, um bom ritmo de produção. A mineradora emprega mais de mil trabalhadores, na sua maioria locais e todos os anos contribui com cerca de 200 mil quilates no volume de produção nacional de diamantes. Seu depósito aluvionar, localizado nas margens do rio Tchiumbue, no município de Cambulo, Lunda Norte, é uma das principais fontes de pedras especiais, que têm colorado os leilões da SODIAM. Nesta entrevista concedida ao Minas de Angola, aquando da sua participação no Mining Indaba 2024, o Presidente do Conselho de Gerência da Sociedade Mineira de Chitotolo, Artur Gonçalves, falou, entre vários assuntos, sobre os principais desafios e as preocupações da mineradora. Acompanhe.
Que balanço faz da presença da Sociedade Mineira de Chitotolo no mercado angolano? Desde a sua criação, modéstia parte, a Chitotolo e o Cuango passam a ser no mundo aluvionar um exemplo a seguir. Repare que nós estamos há mais de 27 anos no mercado, e nunca parámos, ao contrário das demais sociedades. Nós temos acima de mil trabalhadores e todos os anos, de forma consecutiva, todos os meses, nunca atrasamos salários. Nunca deixamos que a empresa ficasse num determinado ponto que pusesse em causa a estabilidade dos trabalhadores, a estabilidade emocional, a paz de espírito dos nossos trabalhadores e nem mesmo dos accionistas. Nós acreditamos que somos um modelo para o mundo aluvionar, quer em termos de produção, quer em termos de modelo de exploração, quer ainda em termos de preservação do meio ambiente. Nós acreditamos que no mundo aluvionar, somos um exemplo a seguir. Quais são os principais desafios da Sociedade Mineira da Chitotolo? Hoje por hoje, um dos principais desafios é o preço do diamante. Porque no final do dia ele é que acaba por determinar todos os demais desafios que possamos vir a ter. E é fundamental, porque no ano passado tivemos uma queda nos preços na ordem dos 40%. Como é que o Sr. vai fazer para contornar isso? O nosso maior desafio este ano passa por tentar persoadir os nossos clientes a pagarem pelas nossas produções valores mais próximos do mercado internacional, e por conseguinte, diminuir esse “gap” que existe em termos de preço, porque os 40% de queda que nós tivemos no nosso mercado nas nossas produções é o somatório da queda do mercado interno e externo. Portanto, queremos ver se podemos diminuitr esse "gap" e estar mais próximos daquilo que se paga no mercado externo. Este é o nosso principal desafio. Falou da situação do mercado o que faz recordar o incidente do ano passado, quando retiram à última hora as pedras especiais de um leilão da SODIAM. Primeiro, conte-nos do segredo para conseguirem as pedras especiais, e depois por que tomaram tal decisão? Bom, as pedras especiais acabam por sair, por inerência, de qualquer bloco que nós produzimos, qualquer área que nós trabalhos. Felizmente, a Chitotolo tem pedras especiais. Não há muito segredo, a geologia não é uma ciência exacta e fica muito difícil a gente prever quando é que vamos ter pedras especiais. Regra geral, aquela zona do Chitotolo proporciona-nos sempre pedras especiais e umas melhores que as outras. E temos a sorte de nos últimos tempos, encontrarmos algumas pedras pinks. Sobre a retirada daquela pedra… Nós, em princípio, avaliamos a pedra em 6 milhões de USD. Ela também não é uma pedra muito grande, mas é uma pedra muito bonita. Não tem grandes fissuras por dentro. O mercado, na altura, não nos queria dar os 6 milhões de USD, então nós preferimos não vendê-las. Neste momento, qual é o volume de produção da Sociedade Mineira de Chitotolo? Para este ano prevemos produzir a cima dos 200 mil quilates por ano. Em comparação com os anos anteriores, por exemplo o ano passado? No ano passado, estivemos um pouco acima disso. Chegamos a quase 300 mil quilates. Superou aquilo que estava previsto em orçamento e esticamos um bocadinho mais. Esse excedente que nós tivemos o ano passado foi muito para suprirmos as questões de tesouraria, ou seja, como houve uma baixa de preço, tivemos que produzir mais do que o previsto para poder repor então aquilo que eram a nossa tesouraria, que não é correcto. Ou seja, estamos a vender ao desbarato a nossa produção e estamos a encurtar o prazo de vida da mina para poder fazer face à tesouraria. O correcto seria nós vendermos essas produções ao preço do mercado. Não que nós não tenhamos vendidos ao preço do mercado, mas que vendamos a um preço que o mercado esteja em alta, e não que o mercado esteja em baixa. O ano passado produziram 300 mil quilates, qual foi o volume de venda, ou seja, quanto lucraram? Tivemos proveitos não na expectativa que estavamos a esperar, mas tivemos proveitos. E qual a vossa expectativa este ano? Como deve calcular, qualquer sociedade preza em transformar seus recursos em receitas. E nós, enquanto gestores, o nosso maior objectivo é fazer dessas empresas rentáveis e dar os lucros aos sócios, entre eles o Estado, que é um dos accionistas da Chitotolo. Estamos atentos aos sinais. Acreditamos que este ano possamos vir a ter proveitos superiores aos do ano passado. Mas, como disse, o nosso produto vive do mercado. E, se o mercado continuar com a tendência em alta, há probabilidade de nós conseguirmos ter proveitos superiores aos do ano passado. O que tem a dizer sobre a suposta rivalidade entre os naturais e os sintéticos. A Chitotolo, por exemplo, tem essas especificidades de ter pedras especiais. Os sintéticos também já estão a produzir pedras especiais. O diamante sintético, no meu ponto de vista, decorre do mercado, das sociedades começarem a evoluir e tentarem procurar outras fontes de rendimento. E produzir produtos semelhantes ao diamante naturais e muito mais económico, portanto, nós enquanto sociedades mineiras vamos ter que começar a aprender a conviver com a concorrência dos sintéticos. É obvio que vai tirar de nós uma fatia do mercado, mas queremos acredita que os apreciadores dos diamantes naturais , provavelmente, terão muita dificuldade em migrar para um diamante sintetico. As semelhanças são muito grandes e os menos atentos até podem confundir um diamante naturais do sintético. Mas, eu acho que as pessoas vão pagar por aquilo que querem consumir. Eu costumo dizer que entramos hoje com o surgimento do diamante sintético, nós estamos um bocadinho como no mundo da moda. Tão bem a gente pode comprar uma peça de uma marca extremamente cara, e que existe uma outra com o mesmo modelo, mas com um preço muito mais económico. Agora, os nichos vão determinar a procura e a demanda. Nós vamos ter que fazer aqui um exercicio de marketing maior, para poder continuar a fazer prevalecer o nosso produto. Concorrência é concorrência. Temos que saber é contornar isto. Qual o tempo útil de vida e a reserva da mina de Chitotolo? O tempo útil depende sempre das reservas que nós vamos encontrando, com base na prospecção que vamos fazendo. Nós fazemos prospecção sempre para um período de zero a anos. Portanto, nós temos reserva para 5 anos. E em 5 a 5 anos, vamos indo aumentando todas essas reservas pelo trabalho de prospecção que vamos fazendo. Dizer que temos um tempo de vida útil para x anos, seria um pouco aleatório, porque a verdade é que em cinco anos, nós temos que renovar as reservas. Ou seja, todos os anos nós vamos renovando as nossas reservas. É verdade que estas reservas estão calculadas com base em um determinado preço médio. Se esse preço médio tiver alguma oscilação, à semelhança do que aconteceu no ano passado, põe em causa todas as reservas que nós andamos a trabalhar e faz com que nós voltemos a fazer o trabalho e voltar a procurar novas reservas. Há relatos de garimpeiros a exercerem actividades ilegais no perímetro de concessão de Chitoloto. Como têm lidado com esta situação? Pois é. A par dos desafios que mencionei anteriormente, temos este desafio, que não deixa de ser menos importantes, que são as invasões que vamos tendo ao longo das nossas concessões, que acaba por pôr em risco a nossa actividade mineira. Há muitas invasões em termos de garimpeiros, cooperativas agrícolas, que nunca existiram, e de repente, passam a existir, utilizando subterfúgio de que as terras são dos seus ancestrais. E apelamos aqui os órgãos de justiça para que reponham a situação, de forma a permitir que a nossa concessão deixa de ser invadida e nós consigamos explorar sem grandes sobressaltos. De outra forma, vamos ter aqui as nossas áreas cada vez mais reduzidas, e, por conseguinte, a vida útil da mina também a diminuir. Este é um segundo maior desafio que nós temos. Que políticas de responsabilidade social têm implementado junto das comunidades? Todos os anos temos orçamentos virados para as políticas de responsabilidade social, e nós dividimos sempre a responsabilidade social em duas formas. A responsabilidade social interna e externa. Uma está virada ao trabalhador e os seus descendentes e a externa que está virada para as comunidades. Basicamente, o que mais capta a nossa atenção é externa, porque envolve as comunidades. Temos projectos ligados para a educação e a saúde. Estamos comprometidos em levar a educação e saude às comunidades. Isso faz-se levando os técnicos e profssionais a estas escola para tratar das comunidades. Temos uma parceria com a igreja Católica para levar a educação às comunidades circunvizinhas. É ela que se encarrega de gerir os estabelecimentos escolares e cuida da contratação dos professores. Uma palavra aos trabalhadores, sócios e também aos parceiros. Começaria pelos trabalhadores da Chitotolo, por entender que eles são o mais importante capital que temos na sociedade. Eu acho que os Recursos Humanos é a fonte de riqueza da Sociedde Mineira da Chitotolo. Agradecer pelo facto de terem se dedicado e feito com que a empresa não atingisse o fundo do poço. Por terem redobrados os seus esforços, para que pudessemos naquele momento mais crítico continuar a produzir e mantermos a empresa activa, portanto, um obrigado muito especial a toda a massa de trabalhadores da Chitotolo pelo empenho e dedicação. Relativamente aos nossos parceiros, um obrigado especial também por terem compreendido as nossas dificuldades financeiras ao longo do ano passado e confiado em nós e manter os nossos fornecimentos sem que para tal tivéssemos capacidades financeiras para fazer derivado da crise que se viveu. O nosso compromisso, honestidade e a nossa forma de trabalhat fez com que eles continuassem a confiar em nós. Agradecemos por nos terem confiado. Garantir que estamos a melharar e, de certeza absoluta, como tem sido hábito, vamos honrar o nosso compromisso. Aos accionistas…? Para os accionistas, dizer que obrigado pela confiança depositada ao conselho de gerência e pelos desafios que nos propuseram para os próximos três anos. Garantimos aos accionistas que vamos fazer o nosso melhor para os próximos três anos não se sentirem decepcionados em relação a gestão da sociedade.
A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.
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