Minas de Angola
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“NÃO ESTAMOS A VIR DE FORA, CONHECEMOS A CASA E SABEMOS O QUE MELHORAR” - José Manuel PCA do IGEO

Faz hoje seis meses e um dia desde que José Manuel foi nomeado pelo PR da República como novo PCA do Instituto Geológico de Angola.

Doutorado em Geologia Económica pela Universidade de Zaragoza, do Reino de Espanha, José Manuel iniciou seus estudos primários na pequena comuna de Canza, no município de Cambulo, Lunda Norte.

Em 1987, ganhou do Governo uma bolsa de estudo e integrou a famosa caravana dos estudantes angolanos enviados para Cuba, onde fez a licenciatura de Engenharia Geológica. Foi a partir daí onde começa o seu percurso profissional.

O PCA do IGEO é um professor de carreira, conta com 23 anos de Academia, 12 dos quais partilhados na actividade geológica mineira. Também teve uma longa passagem na extinta FERRANGOL-E.P., Empresa Nacional de Ferro de Angola.

José Manuel é um homem de campo, que conhece bem o Instituto Geológico de Angola. Fez parte do seu primeiro Conselho de Administração, e isso, lhe dá o suporte necessário para superar as dificuldades e enfrentar os desafios desta importante instituição do País, sobre qual depende o sucesso de toda a política do Executivo para o sector dos Recursos Minerais.

Nesta primeira grande entrevista como PCA do Instituto Geológico de Angola, José Manuel apresenta de A a Z o IGEO e fala, entre outros temas, sobre em que pé está o financiamento do PLANAGEO para a Zona Leste.

Sabemos que o senhor é engenheiro e também foi professor universitário por muitos anos. Como é que começa o seu percurso académico e profissional?

Como todos nós, começámos os nossos estudos nas localidades onde nascemos ou onde atingimos a idade escolar. No meu caso, comecei os meus estudos até a 4ª classe na comuna de Canzar, município do Cambulo, província da Lunda Norte. Concluí o 2.º nível foi na cidade do Dundo, onde fomos buscar as melhores condições para no nosso desenvolvimento. Em 1987, junto com outros colegas, fomos agraciados com uma bolsa de estudo do Governo de Angola para Cuba. Os 11 anos passados em Cuba, deram-nos a oportunidade de iniciar com a 7.ª Classe e terminar com licenciatura em Engenharia Geológica. É aí de onde vem o grau de engenheiro que acabas de referir. Para não alongar muito, dizer que tenho um mestrado e um doutoramento em Geologia Económica pela Universidade de Zaragoza, no Reino de Espanha. Quanto à vida profissional, dizer que começámos muito jovem no Sumbe. Digo jovem porque como professor do PUNIV, os meus estudantes, na altura, eram pais e avôs, depois ingressámos na Academia (Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Ciências), dizer que já lá estamos há 23 anos e desses 12 partilhados com a actividade geológica mineira, através da Ex- Empresa Nacional de Ferro de Angola- FERRANGOL-E.P., que foi a verdadeira escola que me transformou nesse geólogo que hoje todos conhecem

Na gestão estamos a sensivelmente há 4 anos quando fomos nomeados no primeiro Conselho de Administração do IGEO, aprendemos todos os dias e nos esforçamos para dar o nosso melhor.

Hoje, está à frente de um órgão sobre o qual depende todo o sucesso da política do Executivo para o sector dos Recursos Minerais. Qual foi a sua primeira reacção quando se apercebeu da nomeação pelo Presidente da República como o PCA do Instituto Geológico de Angola?

Sempre é motivo de satisfação ser nomeado para exercer um cargo, porque significa confiança e reconhecimento das capacidades em poder dirigir um órgão dessa importância. As primeiras reacções são de agradecer essas pessoas que confiaram em nós, dizer a elas que iremos fazer tudo por tudo para executar todos programas que corresponder ao IGEO implementar, não podemos esquecer que estamos à frente de um órgão que, às vezes, equivocadamente é visto como menos importante no sector mineiro, pelo facto de não gerar receitas palpáveis. Queremos aqui dizer que a investigação não gera receitas na primeira fase, temos que ver o IGEO como uma instituição de investigação, e não como geradora de receitas. Para qualquer geólogo ou empresa que queira investir no ramo mineiro será a primeira casa a ser visitada para conhecer o terreno que poderá pisar. Ganharemos muito mais importância nesta nova era das Energias Renováveis, porque somos chamados a dar soluções da existência dos minerais críticos no território nacional.

A experiência que acumula no sector, certamente, lhe dá um certo conforto para dirigir esta instituição.

Dá-nos algum conforto, mas também temos de estar atentos aos factores externos que não controlamos, para que o caminho a percorrer, não digo fácil, mas que se possa chegar ao destino mesmo com dificuldades.

Falou em dificuldades. Quais são os principais desafios do IGEO?

 Para uma instituição como IGEO, que se espera para dar resposta sobre a existência de recursos minerais no País, os desafios são enormes. Com já dissemos, é uma instituição científica, temos de dar soluções a vários problemas da sociedade no sector geológico-mineiro e a nossa capacidade técnica poderá influenciar nas nossas actividades, mas com os poucos fundos. Teremos que manter as infra-estruturas e os laboratórios acreditados e funcionais, para quem conhece como é a gestão de um laboratório sabe o que estamos aqui dizer. O pessoal é uma preocupação do Conselho da Administração, temos pouco pessoal para as tarefas que temos pela frente. Mas não nos podemos queixar das infra-estruturas. Possuímos as melhores em comparação o que era antes, mas temos pouco pessoal técnico. Como instituto público rege-se pelos concursos públicos de ingresso, neste momento todos soubemos que as prioridades estão viradas para o sector social, então o desafio é com poucos técnicos fazer as coisas acontecer. Talvez no futuro, tenhamos a possibilidade de ter mais técnicos e implementar as brigadas de campo. A pressão sobre os combustíveis fósseis para a redução do seu uso, implica um redobrar dos esforços para criar condições na localização de potenciais áreas com minerais para as energias renováveis. Não será, já é um dos maiores desafios que o IGEO tem neste momento. Quando foi empossado o senhor disse que a sua prioridade seria “melhorar as informações geológicas e mineiras”. O que está a fazer para concretizar a sua promessa?

Não estamos a vir de fora, já conhecemos a casa e sabemos o que temos dentro dela e o que se necessita melhorar. Temos informações geológicas dos últimos tempos muito interessantes. As dificuldades são aquelas que todos nós conhecemos. Como disse, não somos geradores de receitas, pelo que necessitaremos de algum financiamento para os futuros trabalhos.

Que informações o IGEO tem sobre as potencialidades geológicas e mineiras do País?

Como temos vindo a referir, o País apresenta grandes potencialidades. Quando vemos que as estruturas geológicas da RDC e da Zâmbia, onde assentam os grandes jazigos de cobre e não só, têm sua continuidade no nosso País, são informações que nos dá alguma garantia dessas potencialidades geológicas e mineiras de Angola, agora temos é que afinar estas informações com trabalhos detalhados nessas estruturas que as dividimos em “Domínios de Ouro”, “Níquel/Elementos do Grupo da Platina”, “Ferro”, “Cobre e Diamantes”.

Quais são as áreas do País com maiores ocorrências geológicas e mineiras ou com mais reservas economicamente exploráveis?

Se eu falar de reservas minerais estaria aqui a não dizer a verdade, porque não é função do IGEO fazer prospecção, mas sim das empresas mineiras com projectos em fases de prospecção/exploração e sublinhar que quanto maior forem as exposições das rochas, maior serão os processos erosivos para a dessegregação dos minerais. Podemos dizer que as maiores ocorrências estão onde há rochas aflorantes, como é o caso do Sul e Norte do País. Já aquelas zonas onde predominam as areias de Kalahari, identificamos poucas ocorrências. Não significa que nessas zonas não haja mineralizações, mas que estão cobertos por essas areias.

O Instituto Geológico de Angola tem a responsabilidade de fornecer informações geológicas credíveis ao Estado, aos investidores e à academia, além de executar e coordenar a cartografia geológica. Mas, nem sempre um projecto em prospecção termina com abertura de mina. A que se deve quando isso acontece? Quer dizer que houve algum erro de cálculo?

Com isso não quer dizer que as informações fornecidas sejam erróneas. O IGEO não dá mina, se fosse isso, seriamos nós próprios a fazer a exploração, mesmo que fosse com enxadas (risos). As informações que fornecemos, são indicadores de existências de ocorrências e indicações de áreas potenciais em algum mineral, isso não quer dizer que há 100% de existência de uma quantidade para ser explorada, só com a prospecção é que se pode ter a certeza. Para se chegar a uma mina existem várias fases anteriores a esta, todas elas estão plasmadas no Código Mineiro Angolano. Também temos de ter conhecimentos mínimos ou ter alguém que os tenha sobre o negócio mineiro que pretendemos fazer, a experiência mostra-nos que, algumas vezes, há incumprimentos por parte de empresas de algumas fases, acabando por não encontrar o depósito mineral que buscam, porque saltaram para encurtar o tempo e tentaram chegar o mais rápido a reservas.

Que resultados se obteve do Planageo até o momento e a que nível está a implementação da parte Leste?

Os resultados que se obteve do PLANAGEO são vários; temos informações geofísicas que revelaram as estruturas geológicas antes não conhecidas no país: Cartas Geoquímicas, Cartas Hidrogeológicas, Cartas Geológicas a escalas de 1:1.000.000; 1:500.000; 1:250.000;1:50.000 e actualização de algumas à 1:100.000 na parte Norte e Sul. Essas cartas trazem informações da geologia e da existência de alguns minerais, rochas ornamentais, materiais de construção. Além desses dados, o PLANAGEO trouxe também informações de cariz científico, como é os dados geocronológicos que revelam os eventos geológicos que formaram as rochas (idade das rochas) e com elas os minerais. O estudo do comportamento das águas subterrâneas na Bacia do Cuvelai na província do Cunene e que agora vai permitir o controlo dos níveis piezométricos dos aquíferos.

Agora também com a sísmica passiva conhecemos a espessura das areias do Kalahari que não tínhamos ideia antes do PLANAGEO, é um dado científico muito importante. 

Para a Zona 2, que é o Leste do País, os preparativos estão a bom ritmo, tivemos a visita do Exim Bank para verificar o trabalho executado pela operadora na Zona 1, já que foi este banco que financiou a mesma e vai fazê-lo para a Zona Leste. Este estará garantido.

Que característica apresenta a Zona Leste?

A Zona Leste, na sua maior parte, esta coberta por areias do Kalahari, a base da cartografia geológica será realizada com dados geofísicos e imagens de satélites e os projectos mineiros de diamantes nessa parte do território, suas informações geológicas será de suma importância, pelo que reduz o tempo de trabalho, estamos a planificar para 1 ano como máximo.

Em termos técnicos e práticos, como é que são coordenadas as acções do IGEO com o Planageo? A actividade geológico-mineira do País resume-se no PLANAGEO?

O PLANAGEO é um projecto estruturante do Executivo, que é implementado pelo IGEO. Mas tem uma estrutura criada para o controlo das actividades que as operadoras realizam, que é o SEP (Secretariado Executivo do PLANAGEO) coordenado por Sua Excelência Secretario de Estado para Recursos Minerais, com a participação dos nossos técnicos nos trabalhos de fiscalização no campo e na avaliação dos resultados em cada fase.

A actividade geológica mineira não se resume só nos trabalhos do PLANAGEO, nós vemos em todo o país a existência de projectos em prospecção e exploração. Sua Excelência Sr. Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás procedeu este ano à inauguração de alguns projectos de Ouro e Diamantes.

O que segue após a conclusão de todo o trabalho desenvolvido no âmbito do PLANAGEO, o que segue?

O IGEO não foi criado no âmbito do PLANAGEO, antes do referido plano o Instituto sempre realizou as suas actividades de pesquisa, é o que temos feito. As nossas atenções não estão só viradas ao PLANAGEO. Do nosso plano de acções consta um leque de projectos que estamos a realizar.

Sabe-se que o PLANAGEO permitiu a identificação de Terras Raras, na Serra da Neve (Namibe), o nióbio, no Longonjo e o Fosfato em Cabinda. Que outras províncias há potenciais ocorrências desses minerais?

Na realidade não é o PLANAGEO que identificou as ocorrências de minerais que acabou de citar, mas sim certificou a sua existência, estudando-as com alguma profundidade. Se vermos no mapa das ocorrências minerais, claramente observamos que temos alguns desses minerais espalhados por quase todo o território nacional, pelo menos aí onde há rochas aflorante.

Para a operacionalização e execução do PLANAGEO, construíram três laboratórios, que ficaram conhecidos por Zona 1, que abrange a região Norte, Zona 2 (Leste) e a Zona 3 (Sul). Qual a capacidade de processamento de amostragem desses laboratórios?

Para três as unidades equipadas com a última tecnologia em laboratórios, temos uma capacidade instalada de processamento de 20 mil amostras ano. As amostras do Plano Nacional de Geologia foram tratadas nos nossos laboratórios, salvo aquelas que não tinhas equipamentos como é o caso das amostras geocronológicas para a datação das rochas.

Até agora quanto é que já se gastou nestes projectos, desde o PLANAGEO à construção dos laboratórios?

O PLANAGEO já gostou o valor assignados para a Zona Norte e a Zona Sul, cerca de 300 Milhões de Dólares americanos.

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A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.

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