Aqui, o trabalho da jovem geóloga consiste em identificar e quantificar depósitos, depois qualifica e avalia seus aspectos técnicos e económicos, que, posteriormente, vão a exploração.

Da abertura de cortes à supervisão, controlo da qualidade de extracção  à limpeza da rocha, o sucesso de toda uma mina depende, sobremaneira, da dedicação e comprometimento do departamento desta técnica, que, ao lado de outros 500 trabalhadores, tudo faz para que a mina atinja bons resultados.

Com o rosto pintado de alegria, Andreia Bunze encontrou na mina uma segunda casa. Nesta entrevista, a jovem geóloga angolana mostra-nos alguns procedimentos técnicos de como funciona a sua área de actuação na Yetwene. Acompanhe!

Quais são os seus maiores desafios no sector e particularmente na empresa onde trabalha?

A Geologia é uma ciência muito complexa e possui um amplo campo de actuação, e o meu desafio é actuar nos mais diversos campos, bem como debater com a sociedade aspectos relacionados a profissão e, cada vez mais, elevar o crescimento das mulheres no sector, em busca pelos nossos valores fundamentais de respeito, equidade, inclusão, integridade e colaboração. As dificuldades ou busca pelo equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, representa um grande desafio. Sei perfeitamente onde saí, onde estou e para onde quero ir, portanto, a luta é contante e neste caminho é necessário abdicar de muita coisa como abrir mão dos belíssimos momentos com a família e da vida pessoal em geral.

Em particular na empresa, os maiores desafios assentam na necessidade de garantir reservas para os planos de produção, pensar e agir para mineração sustentável, expandir o tempo de vida útil da mina, buscar por inovações e tecnologias avançadas de modos a melhorar a eficiência operacional e tornar a atividade da mina, economicamente competitiva com os novos cenários da economia.

Como é começa o seu trajecto na sociedade mineira onde trabalha?

O meu trajecto na Sociedade Mineira do Yetwene começou em 2020, como assistente administrativa para as operações mineiras, e porque estávamos numa fase embrionária, lidava com todos os arquivos e dados referentes a fase de recolha e análise bibliográfica, e fazia as interpretações de uma maneira muito dedicada e ousada. Passado um ano, fui nomeada como técnica de Geologia. Nesta fase, já com uma equipa considerável e coesa, começamos com os primeiros trabalhos de reconhecimento, levantamento geológico identificação dos alvos. Após algum tempo, passo a encarregada para a Geologia de prospecção, onde desenvolvia trabalhos desde abertura de linhas, sanjas e até mesmo estive destacada na lavaria de prospecção para o tratamento das amostras. Depois desta etapa, fui como chefe de sector de geologia de prospecção e produção. Não foi, nem tem sido um percurso fácil, mas é gratificante para mim ver que a minha carreira na indústria tem experimentado um crescimento exponencial. E fruto deste trabalho, tenho igualmente buscado auto-melhoria e crescimento das minhas capacidades.

Actualmente é chefe do sector para geologia de prospecção e produção. Que competências técnicas são exigidas a uma responsável pelo sector de geologia e prospecção na sua sociedade mineira?

Um chefe de sector, precisa apresentar um conjunto diversificado de competências técnicas para desempenhar com eficácia e eficiência as responsabilidades que lhe são incumbidas nomeadamente: conhecimento sólido sobre a Geologia de depósitos minerais, capacidade de identificar e interpretar características geológicas, ter experiência em métodos e técnicas de prospecção, habilidades com softwares, capacidade de realizar avaliação dos recursos, estimar a quantificação do minério por meio de cálculos, calcular as reservas, ter capacidade de planear os trabalhos e fazer a gestão gradual dos dados geológicos. Além dessas competências técnicas, é relevante ter competências nos assuntos específicos, dedicação, habilidades de liderança, capacidade de comunicação, facilidade em relacionamento interpessoal para conseguir trabalhar em equipa, ser proactivo, ter raciocínio lógico e crítico para resolução e identificação de problemas, ter iniciativa para tomada de decisões, bem como ter conhecimento multidisciplinar, independentemente da sua área de actuação.

O que de concreto corresponde as suas funções dentro da empresa?

O trabalho consiste na identificação dos depósitos diamantíferos, sua quantificação, qualificação e avaliação dos aspectos técnicos e económicos envolvidos na sua exploração e comercialização. Para tal, tenho participado na elaboração de programas de prospecção, com o objectivo de identificar áreas alvos para exploração de modos a garantir reservas para execução de um plano de produção, contribuir para o acréscimo do tempo de vida útil da mina e para o desenvolvimento técnico desta.

Participo do planeamento e acompanhamento da abertura de cortes e supervisiono a extracção do minério isto é: o controlo da qualidade de extração (segundo as recomendações exigidas) tendo em conta o factor de diluição, incluindo a limpeza da Rocha base nos diferentes tipos de depósitos. Faço a análise dos parâmetros macroscópicos do minério, controlo os volumes removidos, extraídos, processados e analiso os resultados indicadores chaves da produção! O acompanhamento e controlo da evolução da mineralização, bem como o controlo dos parâmetros geoeconómicos da produção no geral.

Como faz para conseguir ultrapassar as suas limitações?

Enfrentar limitações ao longo do nosso percurso profissional é normal. Afinal, a facilidade é uma ameaça maior ao progresso do que a dificuldade, e para ultrapassar as minhas limitações, primeiro, eu procuro conhecê-las e perceber quais as áreas que preciso melhorar e trabalhar mais. Assim, busco por formações contínuas, oportunidades de aprendizado e desenvolvimento profissional, de modo a melhorar as minhas habilidades. Participo em workshops, conferências, faço cursos, networking, procurando sempre manter comunicação com profissionais experientes, sem qualquer receio de pedir algum suporte na área, por formas a partilhar experiências, conselhos, orientações, que me ajudam a enfrentar e superar tais limitações aprimorando as minhas habilidades. Por outro lado, cultivar atitudes positivas. Crer que somos capazes e acreditar mais nas nossas próprias habilidades e capacidades é fundamental para ultrapassar os nossos desafios e alcançar o sucesso.

Cabe também a si, elaborar programas de prospecção para identificar áreas-alvos para exploração. É deste trabalho que depende todo o sucesso da abertura da mina. Como é que é feito este trabalho?

Sabemos que, é na geologia onde tudo começa, é onde nós identificamos os depósitos minerais e os quantificamos. A pesquisa e prospecção representam as etapas iniciais e cruciais no processo de identificação e avaliação desses depósitos minerais. Ao certo, o sucesso da abertura de uma mina depende de uma análise muito abrangente e complexa que envolve diversos aspectos que considera não apenas os resultados da prospecção (embora seja a fase fundamental) e a presença do minério, mas também, a viabilidade económica, a análise dos custos de extração, do transporte do minério, processamento, e até as estimativas das receitas geradas com as vendas. Devem ser analisados o método de extração mais adequado, os aspectos técnico, económicos, os impactos ambientais e sociais, o cumprimento dos padrões de sustentabilidade estabelecidos, as infraestruturas e acessos.

O sucesso de uma mina depende de dois fatores críticos: a prospeção e a exploração. A extração estará presente durante toda a vida da mina, já a prospeção, a sua importância cresce à medida que as reservas iniciais vão diminuindo. A exploração foca-se com o presente e a prospeção pode assegurar o futuro da mina.

Em síntese, após trabalhos de reconhecimento e levantamento geológico, faz-se a identificação das áreas alvos e traça-se um programa de amostragem ou sondagem, com malhas bem definidas, que podem evoluir em função aos resultados obtidos, de modo a aprimorar os parâmetros geológicos. Na sequência, identificam-se as áreas prioritárias para a amostragem de grande volume, analisam-se os resultados, fazem-se os cálculos de reservas, delimitação dos blocos e sua avaliação económica.

Como é que faz para conseguir garantir as reservas para execução de um plano de produção ou o acréscimo do tempo de vida útil da mina?

Para garantir as reservas e/ou aumentar o tempo de vida útil da mina são feitos trabalhos de continuidade a nível da prospecção. Uma vez que a prospecção não pára, é um processo contínuo, realiza-se campanhas para identificar novas áreas e quantificar novos depósitos, faz-se a reavaliação e extensão dos blocos já existentes, a fim de determinar se estes blocos estendem-se além das áreas exploradas. Assim como a reavaliação, monitoramento contínuo das reservas e atualização regular dos planos de produção para garantir a sustentabilidade operacional a longo prazo. Sabe-se que, os diamantes não se multiplicam e as reservas esgotam, então há a necessidade de intensificar os trabalhos de prospecção até mesmo com suporte de tecnologias e métodos de prospecção mais avançados.  

O seu trabalho exige muito de si?

Sim. Acredito que todo trabalho exige muito de nós quando temos metas e objectivos a cumprir. Nada é fácil. E a trajetória para o alcance do sucesso requer alguns elementos fundamentais: Trabalho duro, sacrifício, dedicação, aquisição contínua de conhecimentos, comprometimento resiliência e consistências nas actividades envolventes. Um exemplo claro é que muita das vezes não há dia da semana, final de semana ou mesmo feriados, simplesmente há uma Andreia pronta para dar respostas a todo momento, com a colaboração e apoio de toda a equipa muito dedicada, pois sozinha não conseguiria.

E o que tem feito para conseguir alcançar bons resultados?

Penso que, ter os meus objectivos e metas bem claras é o primeiro passo para direcionar o meu trabalho e alcançar bons resultados. Afinal, os objectivos dão-nos direcção e as metas dão-nos as etapas e o período temporal