Minas de Angola
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"TEMOS MUITOS ENGENHEIROS FORMADOS ATRAVÉS DA BOLSA DA SONANGOL ENTRE 2008 OU 2009 QUE ESTÃO DESEMPREGADOS”

A Ordem dos Engenheiros de Angola é uma instituição de utilidade pública e alberga cerca de 7  mil engenheiros de todas as áreas, 450 dos quais formados em Minas. Curiosamente, os engenheiros de Minas, apontam dados desta agremiação, são os que mais se debatem com o problema da falta de emprego.

José Sumbula é membro do Colégio de Minas e Petróleo e coordenada o Gabinete de Empreendedorismo e Inovação. O seu trabalho nesse departamento é direcionar e ajudar outros engenheiros com visão de negócio e que desejam montar uma startup.

Numa conversa aberta e sem rodeios, o técnico vagueia em vários assuntos, aconselha as principais diamantíferas do país a estarem na linha da frente do financiamento à transição energética, por entender que investir nisso é uma questão de segurança energética e de defesa da soberania nacional e justifica por A mais B o que diz. Acompanhe!

Qual a função do Gabinete de Empreendedorismo e Inovação da Ordem dos Engenheiros de Angola?

O Gabinete de Empreendedorismo e Inovação na Ordem dos Engenheiros de Angola tem a incumbência de direccionar e ajudar os colegas com iniciativas de implementação de um negócio, que possuem visão para montar uma startup… Este gabinete tem a componente de auxiliar e acompanhar os engenheiros.

Então funciona como uma incubadora. Fale-nos um pouco sobre o que motivou a sua criação.

Exactamente. É a primeira incubadora da Ordem dos Engenheiros de Angola. Notámos que há muitos colegas com boas ideias e que montam negócios, mas os recursos financeiros deles não lhes permite ter um espaço aconchegante para receber seus clientes e alavancar seus negócios, portanto, a Ordem dos Engenheiros trabalha nessa perspectiva. 

O que é necessário para fazer parte da Ordem dos Engenheiros de Angola?

Na Ordem dos Engenheiros de Angola, nós temos duas categorias: a dos membros efectivos e dos membros extraordinários. O membro efectivo é para quem é formado e licenciado em Engenharia. Este pode facilmente se inscrever na Ordem, apresentando o seu diploma e CV. Se tiver mais de 5 anos, ele é admitido como membro efectivo. Se tiver menos de 5 anos ou estiver a sair da Universidade, então entra como membro estagiário. Depois, lhe daremos alguma formação e a Ordem dos Engenheiros trata de arranjar o estágio para ele. Cumprindo a etapa do estágio, ele passa para membro efectivo.

Pela vossa experiência quais são os cursos de engenharia onde mais se observa carência de emprego?

Com mais carência de empregabilidade é a Engenharia de Minas. Dentro da Ordem dos Engenheiros, temos mais engenheiros civil, e a área de Minas é onde mais se verifica a carência de emprego, por causa da baixa percepção sobre o que um Engenheiro de Minas faz. As pessoas pensam que o Engenheiro de Minas apenas trabalha nas minas, mas não. Ele trabalha para tudo o que é geomecânica, para fazer escavações, abertura de túneis, para pontes e inclusive para empresas de construção civil, ferrovia… o Engenheiro de Minas participa em todo esse processo.

Quais seriam as motivações para este  suposto mau entendimento sobre a Engenharia de Minas?

Isso começa logo nas universidades. As universidades não preparam os estudantes para ter uma visão holística, mais abrangente. Eu penso que, as universidades devem trabalhar para que o estudante tenha uma visão mais abrangente sobre o curso. A Engenharia de Minas lida com a terra, questões de catástrofes, meio ambiente, tudo isso está na Engenharia de Minas.

Hoje fala-se muito sobre a transição energética por um lado, por outro lado, temos o problema da falta de financiamento. Qual a sua opinião sobre este assunto?

O que vem acontecendo é que, os lucros, das minas já estabelecidas —  isso não só em Angola, mas também um pouco pelo mundo  —  são devolvidos aos accionistas. Como um accionista isso é bom, mas compromete as metas estabelecidas no sector. Porque há baixo investimento nesse segmento. A nível de Angola, podemos trazer o projecto mineiro mais bem-sucedido, que é o Catoca.  Podemos observar que, além do segmento do diamante, Catoca já não investe num outro segmento.

Isso é mau?

O Catoca já está a participar no programa da Luaxe, podemos ver que a Luaxe é diamante. Para além do segmento do diamante, Catoca já não actua em nenhum outro segmento, ela não está no lítio, que é um mineral de transição energética, não está no cobalto, nem no manganês.

Esta abordagem, no entanto, consta dos planos da empresa. É do nosso conhecimento que Catoca tenciona diversificar o seu core business.

Pois é. Mas falo da Catoca e falo também de outras companhias. Atendendo que estamos numa transição energética, ela devia estar neste momento a financiar a pesquisa e prospecção desses minerais críticos. Catoca é a empresa privada, se assim podemos considerar, que devia estar na linha da frente, no comando desses recursos minerais estratégicos, tendo em conta que ela tem capacidade financeira para tal. Ela não precisa de recorrer aos países que pretendem continuar a controlar a cadeia energética para buscar financiamento. Porque esses financiamentos estão atrelados a outras obrigações. A Catoca é uma empresa estratégica nacional e que devia rever esta questão de transição energética e que também é uma questão de segurança energética.

Aqui levanta-se outras questões, como os da ocorrência para não ter que enfrentar os riscos. Há ocorrências suficientes em Angola para que Catoca, por exemplo, enverede para este caminho?

Vou lhe dar um exemplo muito prático, que está a acontecer agora no Namibe, o Namibe Lithium Project. A empresa é angolana, e foi forçada a vender 80% da sua participação a uma empresa australiana. É um australiano que está disposto a correr riscos a gastar o seu dinheiro para vir fazer prospecção para ver se a quantidade é suficiente ou não. Porquê que o australiano está disposto a correr os riscos e gastar o seu dinheiro para fazer prospecção e não eu que digo que amo o meu país? Porque na actividade mineira tem o risco!

Isto está a acontecer agora, temos os chineses a fazerem trabalhos de pesquisas, temos outras nacionalidades a fazerem este tipo de trabalho. É justo que quando houver resultados positivos, que volte para esses países, porque nós angolanos não queremos. Estamos com essas perguntas: será há ocorrências suficientes? Mas as empresas estrangeiras não estão cépticas.

As empresas angolanas não têm tanto dinheiro para aplicar, pelo menos é o que se ouve.

Empresas como Catoca, que é uma empresa estratégica nacional, um projecto que deu certo, é que tinha que estar na vanguarda, na pesquisa desses recursos minerais para, posteriormente, partir para exploração e nós ficarmos com o know-how, as informações na nossa base de dados.

Catoca é membro efectivo da Ordem dos Engenheiros e tem apoiado muito as nossas iniciativas. Tem participado em todos os nossos fóruns e tem sido um bom parceiro e um bom membro para a Ordem dos Engenheiros de Angola, por isso, fica aqui um conselho.

Poderá levantar-se também a questão do capital humano?

Nós estamos muito bem servidos. Se verificar, a mão-de-obra que assegura o Catoca 80 ou 90 por cento são angolanos. E não só, temos muitos engenheiros que foram formados através da bolsa da Sonangol, entre 2008 ou 2009 estão desempregados!

E o que a Ordem dos Engenheiros de Angola tem feito para resolver estas questões?

Temos feito o que estamos a fazer agora: dar a conhecer que os engenheiros estão abertos para dar seus pareceres e dar o nosso contributo. Não tenham medo da Ordem, porque a Ordem não é uma empresa, é uma instituição de utilidade pública e está aqui para apoiar.  

Que as empresas sejam muito mais patrióticas e tomem a vanguarda da pesquisa e exploração dos minerais estratégicos, porque isso vai determinar os próximos países a serem desenvolvidos daqui a 10 ou 20 anos. Não abraçar esta causa, estaremos a vender a nossa soberania.

Minas de Angola

A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.

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