Minas de Angola
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“AINDA É DIFÍCIL SERMOS ACEITES COMO SÃO OS HOMENS, TEMOS QUE TRABALHAR 3 OU 4 VEZES MAIS PARA PROVAR AS NOSSAS CAPACIDADES”

O Minas de Angola traz-lhe mais uma história inspiradora da nossa indústria.  Um exemplo de mulher guerreira, uma voz das minas, que conhece bem tudo o que envolve a actividade de campo.

Chama-se Julieta Kiludi. Está na mineração desde 2018. Começou como estagiária, e depois acabou por ser recrutada como técnica de operações mineiras pela sociedade mineira de Chicuamone. Actualmente, é responsável pela definição, desenvolvimento e implantação de planos na Sociedade Mineira do Chicuamone, um depósito aurífero, na província da Huíla. Seu trabalho envolve todo o processo de produção, desde a extracção do minério até ao produto final.

A profissional reúne uma vasta experiência na área. Já trabalhou como técnica de acompanhamento de poços e trincheiras, delimitação de malhas, identificação de alvos e técnica de tratamento. Ao Minas de Angola, falou sobre a complexidade do processo de extracção de ouro na sociedade em que trabalha. Acompanhe!

 

 

 

Fale-nos um pouco de si, da sua experiência e carreira no sector mineiro, particularmente no depósito aurífero da Sociedade Mineira do Chicuamone ? 

Sou formada em Engenharia de Minas pelo Instituto Superior Politécnico da Huíla. Sou bastante comprometida com o meu trabalho.

O que envolve o seu trabalho dentro da Sociedade Mineira do Chicuamone?

O meu trabalho dentro da mina envolve praticamente todo o processo, desde a extracção do minério até ao produto final.

Quais são os seus maiores desafios?

Atingir diariamente e mensalmente os objectivos de produção. Sabemos que uma mina só é rentável quando atinge os objectivos traçados, então todos os dias quando acordo tenho um desafio que é alcançar o objectivo diário.

Como é que é o seu dia-a-dia no trabalho?

O comum no sector mineiro, bastante exaustivo, mas prazeroso. Acordo muito cedo, e vou para o campo onde passo maior parte do tempo. Não há tempo para muito mais, senão o trabalho, com excepção do domingo, que geralmente é o meu dia de folga e passo o tempo todo no quarto a cuidar de mim (risos), mas quando necessário tenho de trabalhar.

Que limitações tem encontrado durante a actividade laboral e como tem feito para ultrapassá-las?

Não existe trabalho sem desafios, principalmente no sector mineiro que temos que lidar todos os dias com as mesmas pessoas, que ficam muito tempo longe de casa e dos amigos. Às vezes, acaba afectando um pouco aquilo que são os níveis emocionais e de tensão.

Falando particularmente de mim, ainda é difícil sermos aceites enquanto mulheres no sector mineiro como são os homens, geralmente temos de trabalhar 3 ou 4x mais para provar as nossas capacidades, sem dizer que não é fácil os homens do sector aceitarem, de bom grado, serem dirigidos por mulheres, esse sem dúvidas tem sido o meu maior desafio. Para ultrapassá-los tento primeiro manter sempre a cabeça fria para lidar com tais situações, e nunca permito que ninguém passe da conta comigo, pois isso cria procedente, tento respeitar todo mundo para receber o mesmo de volta.

Como conseguiu chegar a responsável pelas operações do projecto?

Fui recrutada como técnica de operações mineiras.

Estando o projecto em fase embrionária, em prospecção, fazia maioritariamente trabalhos ligados ao departamento de geologia, como acompanhamento de poços e trincheiras, delimitação de malhas, identificação de alvos e outros. Um ano depois desse processo, fui destacada como técnica de tratamento em uma planta piloto destinada a prospecção onde estive por 1 ano. Logo a seguir, fui para a planta de beneficiamento como encarregada de turno, depois de 6 meses, voltei ao departamento de operações como adjunta. Depois desse processo, fui nomeada a responsável de operações, tendo passado praticamente por todas a áreas que envolvem a mina.

Fale-nos um pouco da sua função. O que um responsável pelas operações faz dentro da Sociedade Mineira do Chicuamone?

Sou responsável pela definição, desenvolvimento e implantação do plano da mina, e programa de produção. Asseguro a máxima eficácia e eficiência na utilização dos equipamentos da empresa.

Também foi técnica de beneficiamento e recuperação.

Sim. essa foi a mais desafiadora, pois foi aí onde comecei a trabalhar em regimes de turno, e o mais pesado era, com certeza, o nocturno. No entanto, o gosto e vontade em aprender tudo acerca do processamento de ouro, equipamento ideais e tudo que envolvia o beneficiamento, despertaram em mim mais vontade de aprender e estudar sobre o mesmo. Finalmente me senti completa como engenheira de minas depois desse novo aprendizado.

Já alguma vez lhe ocorreu pela cabeça trocar de profissão por conta da pressão e tudo o que tem de suportar na mina?

Sim, mas felizmente não durou muito tempo (risos). Em algum momento da vida, todos nós já nos questionamos o motivo de estarmos em determinado lugar e quando achamos a resposta e nos dá prazer e sentimos paz independentemente dos desafios e sacrifícios.

O que mais pesou e lhe fez mudar de ideia?

A minha vontade de desenvolver tecnicamente na área que me formei, e tornar destaque e exemplo para outras pessoas. Sem falar das pessoas que passaram pela minha vida profissional e me formaram para que fosse boa naquilo que eu mesma me predispus a fazer.

O tempo de mina ainda é uma questão preocupante para as mulheres. Umas acabam por não conseguir constituir um lar. Qual é a sua opinião sobre este assunto?

O tempo na mina é preocupante para o trabalhador mineiro no geral, não é uma questão de género. Tal como sou apologista de que se devia uniformizar as rotações mineiras como acontece no sector dos hidrocarbonetos, de certeza que muitos homens partilham da mesma opinião.

Claro, que para um trabalhador nesse regime não é fácil manter um lar, mas tudo na nossa vida é uma questão de escolha, cada um faz as que lhe dá mais prazer e satisfação, e eu não sou diferente, e sinto-me bem em estar numa mina e a crescer tecnicamente.

Que histórias mais lhe marcaram ao longo desses anos de mina?

Ao longo dessa estrada, foram muitos os momentos que me marcaram significativamente. O primeiro foi quando em uma bateia que eu mesma fazia, encontrei a primeira pinta de ouro que apareceu desde a minha entrada no projecto, foi uma sensação que até hoje não saberia explicar, deu-me muito prazer e satisfação aquele momento e, de certeza, nunca me vou esquecer disso.

O segundo maior momento que me vem à mente, foi quando encontrei a maior pepita de ouro que já recuperamos, por algum momento quis acreditar que estava a ver mal, mas felizmente não (risos). Esses com certeza serão os momentos que vão comigo a vida toda.

Qual é o seu maior sonho?

Já estou a viver meu maior sonho! É de certeza o que estou a viver nesse momento, nunca na minha vida sonhei chegar tão longe profissionalmente.

Sonho em liderar uma equipa com pessoas tão competentes, estar à frente de uma maioria de homens; liderar um departamento que até então com menos de 10 anos de experiência no sector era impensável. E espero desfrutar bastante desse sonho e que seja apenas uma oportunidade de mostrar o meu valor e daquilo que sou capaz.

 

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A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.

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