Minas de Angola
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GEÓLOGA AGNELA MIRANDA: “SOU CAPAZ, POSSO FAZER A DIFERENÇA NUM SECTOR TRADICIONALMENTE DOMINADO POR HOMENS”

Agnela de Jesus Bezerra Miranda é uma mulher das minas e um dos rostos femininos mais promissores do sector. O perfil desta profissional acaba por deitar por terra a ideia de que não há espaço para as mulheres na indústria mineira angolana. A geóloga mostra por A mais B que as mulheres são capazes de operar equipamentos pesados, dominar solos e liderar equipas em ambientes desafiantes.

Formada em Minas pela Universidade Agostinho Neto e pós-graduada em Direito e Gestão de Petróleo e Gás, está no sector há cinco anos. Hoje, é uma mulher viciada em minas. Seu primeiro contacto com a indústria começou numa empresa de inspecção ambiental de operações petrolíferas. 
A dedicação e competência atraíram a atenção de uma sociedade mineira.

A geóloga defende com “unhas e dentes” que a mulher acabar por ter um papel determinante na indústria. Mas, sublinha, elas só conseguirão garantir o “tão desejado” espaço, se continuarem a se formar e se informar. A profissional vai mais longe e deixa nesta entrevista, alusiva ao "Março Mulher", o seu parecer sobre os actuais desafios da mulher angolana na mineração. Acompanhe!

 

Como veio parar na indústria?

Terminei a minha licenciatura em 2015. Contudo, Angola vive uma crise económica e financeira desde 2014, que provocou o encerramento de inúmeras empresas nos mais variados sectores, em todo o território nacional. Foi neste contexto que me estreei no mercado de trabalho. Apliquei-me para diversas empresas do sector petrolífero, mas sem sucesso. E porque a trajectória da vida não é linear, candidatei-me para o sector mineiro, especificamente no diamantífero onde me foi dada a oportunidade e embarquei na carreira de geóloga, que serviu para despertar a minha paixão pela indústria.

Quais são seus maiores desafios e perspectivas?

Ainda há muito que se ver e fazer. Estamos a caminhar. Já não estamos onde começamos. Contudo, precisamos olhar para onde queremos chegar. O que estamos a plantar agora? Que tipo de quadros queremos ter? Fala-se muito em anos de experiência, mas o mundo está em constante evolução as técnicas de exploração evoluíram. Hoje, temos drones, softwares que facilitam o planeamento e acompanhamento dos trabalhos. É preciso apostar-se na formação contínua, passagem de conhecimento, plano de carreira, sistematização e qualificação da mão-de-obra nacional.

Por aquilo que vê e vive, qual acha que é ou devia ser o papel da mulher angolana na indústria mineira?

Angola é rica em minerais. São visíveis os esforços em prol do desenvolvimento e aproveitamento dos nossos recursos, mas também é rica em mulheres. Até 2016 haviam 67 homens por cada 100 mulheres no país. Portanto, é nossa responsabilidade contribuirmos para o crescimento e estabelecimento da indústria, que até o momento é liderada por homens. Precisamos formar-nos, informar e entender que somos capazes de ultrapassar as nossas limitações para garantirmos o nosso “tão desejado” espaço no sector. Não apenas na cozinha e administração, como também na operação de equipamentos, na engenharia e na liderança de equipas em ambientes desafiantes.

Mas, parece não ser fácil isso…

Importa realçar que a dificuldade de conciliação entre a vida pessoal e profissional, devido à rotação a que nos submetemos, é real e pesa mais sobre as mulheres, dificultando a progressão activa neste sector. Mas também é nosso papel gerar e proporcionar políticas que visam o bem-estar e equilíbrio da mulher mineira.

Pelos anos de experiência, associado ao nível académico, acha que hoje a Agnela seria muito mais respeitada ou reconhecida profissionalmente se estivesse a desempenhar uma outra actividade?

Não sei o que poderia acontecer se estivesse em outra área ou actividade. Porém, digo com toda certeza que não trocaria por nada tudo que sou e aprendi neste sector ‘mineiro’. Sei que o caminho é longo e tenho muito que percorrer. Mas, é um desafio a que me exponho e permito-me viver. Como havia referido, muito mais que o reconhecimento de terceiros, valorizo a satisfação pessoal por saber e provar a mim mesma de que sou capaz, que posso fazer a diferença num sector tradicionalmente dominado por homens, e que ao final do dia ainda que cansada, sinto-me realizada.

Porquê diz isso?

Porque amo o que faço.

Onde começa e termina sua actividade como geóloga mineira?

O geólogo desempenha um papel fundamental e de muita responsabilidade nas minas. O meu papel é pesquisar e identificar áreas de exploração, garantir a realização da extracção de acordo com os pressupostos traçados, evitar diluição, acompanhar as diferenças e ocorrências geológicas no bloco (caso hajam, podem influenciar nos resultados obtidos); planear e gerir a produção.

Como é o seu dia-a-dia na mina?

Normalmente o dia nas operações mineiras começa muito cedo. Por volta das 05:00 da manhã, saio para o escritório levando todo material que devo usar (bússola, mapas, GPS, caderneta). Às 05:30 ou 06:00 já estou à frente do trabalho com a equipa, na minha área preferida dentro da geologia mineira, que é a prospecção. Claro que defino previamente o plano de trabalho no escritório com base no mapa do perímetro de exploração para, posterior implementação no terreno.

Ao longo desses anos, viveu alguma experiência boa ou má que gostaria de partilhar connosco?

Os meus primeiros dias foram maravilhosos… como mulher, nova na área, fui muito bem recebida e tratada pela empresa e pelos colegas, de forma geral. Cheguei até a pensar que o trabalho mineiro fosse fácil. Um mês depois, quando o meu colega saiu de licença de férias e acabou por ficar seis meses por questões de saúde, precisei substitui-lo e passei eu a  orientar os trabalhos na área de prospecção. Tive um choque de realidade e fui obrigada a superar todos os desafios que se apresentaram, porque não tinha ninguém para me auxiliar.

Como fez para conseguir sair-se vitoriosa?

Foram dias difíceis mas, me proporcionaram as bases e ferramentas necessárias para continuar a trilhar o meu caminho profissional com maior confiança, com uma equipa só de homens, num ambiente desafiante e isolado das matas. Hoje a equipa está a crescer, cada vez mais coesa e o meu foco está em responder com zelo e dedicação aos desafios que me são apresentados. É bem verdade que Deus envia pessoas em nossas vidas que nos dão força e a elas eu agradeço por lembrarem-me que, com trabalho e dedicação, posso atingir os meus objectivos.

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A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.

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