Juranda Bernardo é gemóloga e consultora de diamantes brutos e lapidados. Actua no DMCC. É das pouquíssimas mulheres na indústria internacional de diamantes brutos. Traz nessa primeira rúbrica do Minas de Angola sobre “ O Estado da Indústria”, uma reflexão pontual sobre os diamantes cultivados em laboratório e os desafios da indústria de diamantes naturais. Do ponto de vista comercial, hoje a indústria de diamantes naturais enfrenta vários desafios à luz da crescente popularidade e avanços em diamantes cultivados em laboratório. Alguns dos principais desafios, como é óbvio, incluem o custo. Um diamante cultivado em laboratório é substancialmente menos, até 70% mais barato, do que um diamante natural. O consumidor, em sua análise, caso o motivo da compra não seja sentimental, ou sem qualquer intenção de investimento, tende a avaliar a disparidade do preço entre os dois produtos. Por exemplo, um diamante natural de 1 quilate, com classificação de claridade SI1, pode custar US$ 6.100, enquanto um diamante cultivado em laboratório com a mesma classificação custaria apenas cerca de US$ 2.300. Além disso, é possível comprar um diamante de laboratório de 2 quilates pelo mesmo preço de um diamante natural de 1 quilate. Entretanto, os diamantes de laboratório têm pouquíssimos valor de revenda. Pois, uma vez que uma pedra é identificada por sendo cultivada em laboratório, mesmo que se pague muito por ela, de igual modo, não se recebe muito por esta pedra. No geral, a indústria de diamantes naturais deve lutar para se adaptar ao aumento dos diamantes cultivados em laboratório, enfatizando as qualidades únicas e o significado emocional dos diamantes naturais. Isso é possível, basta investir na sustentabilidade e nas práticas de mineração responsáveis e continuando a fornecer transparência e educação aos consumidores. Ao enfrentar esses desafios, a indústria pode navegar no cenário de mudança e manter a sua relevância no mercado. Antes de prosseguirmos com a nossa abordagem, importa referir que diamantes cultivados em laboratório são diamantes que têm essencialmente as mesmas propriedades químicas, ópticas e físicas e estrutura cristalina que os diamantes naturais, de acordo com o Instituto Gemológico da América, e o Instituto Internacional de Gemologia, pioneiros na classificação de diamantes. Anteriormente, a indústria de diamantes naturais temia que seus consumidores aceitassem diamantes cultivados em laboratório em anéis de noivado. E isso já tem acontecido! O argumento era que as pessoas comprariam diamantes cultivados em laboratório e não contariam a ninguém a sua proveniência. Mas, pelo que se tem visto, elas hoje têm muito orgulho disso. Actualmente já existem muitas pessoas nos países do Golfo, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Estados Unidos e, até mesmo em Angola, a casarem-se com preferência específicas de alianças de diamantes cultivados em laboratório, mesmo que tenham orçamento para comprar alianças com diamantes naturais. Agora, a questão é: será que os diamantes cultivados em laboratório oferecem a mesma durabilidade que os diamantes naturais? Estima-se que sim. Os diamantes produzidos em laboratório oferecem o mesmo nível de durabilidade que os diamantes naturais. Tanto os diamantes cultivados em laboratório quanto os naturais são compostos de átomos de carbono dispostos em uma estrutura cristalina, o que lhes confere dureza e durabilidade excepcionais. Quer um diamante seja natural ou criado em laboratório, sua durabilidade é determinada pela sua qualidade e como é lapidado. Diamantes de qualquer origem podem ser cortados e moldados para maximizar a sua durabilidade e longevidade. Assim, os diamantes naturais e cultivados em laboratório podem resistir ao teste do tempo e manter o brilho e beleza com cuidado e manutenção adequados. Eu, pessoalmente, acredito que financeiramente os diamantes cultivados em laboratório não sejam boas opcões por não reterem qualquer valor de revenda, pois são cultivados em quantidades ilimitadas. Numa prespectiva analógica, uma vez que os diamantes cultivados em laboratório oferecem a mesma relevância que um diamante natural, então “por que razão são eles cada vez menos valiosos e comuns? Porquê os diamantes cultivados em laboratório ganharam tanta visibilidade? Os diamantes cultivados em laboratório conseguiram posicionar-se no mercado, porque produziram um modelo de marketing virado em torno da sustentabilidade e responsabilidade social, optando pela conscientizacao do seu público-alvo, destacando-se no glamour associado à sua capacidade de produção tecnológica, e impactando os seus consumidores sobre os benefícios para natureza, promovendo um conceito de moda considerada ambientalmente mais ecológica. Posição dos diamantes cultivados em laboratório na indústria global De acordo com o relatório do MVEye, 46% dos retalhistas de joias que vendem actualmente diamantes cultivados em laboratório afirmam que as gemas alternativas estão a “roubar” os negócios das variedades mineradas tradicionais. Tanto é que grandes retalhistas de joias tradicionais já abraçaram tais alternativas. Em 2018, a De Beers, maior empresa de mineração de diamantes do mundo, surgiu nos holofotes ao anunciar o lançamento da marca Lightbox de diamantes cultivados em laboratório. E em 2021, a Pandora, maior joalheria do mundo em termos de volume, anunciou que já não usaria diamantes naturais em nenhum dos seus novos designs, e que mudaria para gemas cultivadas em laboratório com a linha Pandora Brilliance. Portanto, é um facto que os diamantes cultivados conquistaram o seu espaço no mercado internacional diamantífero, tornando-se a preferência de muitos actualmente. Vê que, por exemplo, no dia 10 de Julho de 2023, Dubai irá albergar o maior evento de diamantes cultivados em laboratorio. O “Labgrown Diamond Symposium”, um evento organizado pela DMCC que terá como tema “Construir o Proprio Futuro Brilhante Dos Diamantes Culitivados em Laboratório” e reunirá toda a cadeia de valor da indústria de diamantes cultivados em laboratorios, a fim de explorar activamente os desafios e oportunidades enfrentadas pelo sector e identificar iniciativas concretas, beneficiando todas as partes interessadas. Então, como diferenciar um diamante natural de um diamante cultivado em laboratorio ? “Considera-se impossível distinguir a olho nu a diferença entre um diamante natural e um cultivado em laboratório.” Embora tenham a mesma composição química, e semelhanca física. Eu, pessoalmente, atrevo-me a dizer que os diamantes naturais são valorizados pela sua autenticidade, raridade e beleza intrínseca. Cada diamante natural é verdadeiramente único, e é essa singularidade que muitas pessoas procuram ao escolher um diamante para uma ocasião especial ou para simbolizar um momento significativo em suas vidas. No entanto, existem casos muito específicos de especialistas que afirmam conseguir diferenciar ambos a olho nu, através de inclusões existentes somente em diamantes de laboratório; mas que certamente, tal prática requer um nível altíssimo de experiência e exposição na materia (um olho bem treinado). Um outro ponto relevante são algumas características especificas que certas pedras apresentam que, para nós, gemólogos, são consideradas indicações infalíveis de que estamos diante de um diamante natural. Apesar de que actualmente alguns fabricantes de diamantes sintéticos já têm adicionado propositadamente inclusões para manipular algumas propriedades. Entretanto, as formas mais seguras de diferenciá-los ainda são através de equipamentos de avaliação especiais existentes em laboratórios, e pelos seus os certificados de origem emitidos pelos Instituto Gemológico da América (GIA), e o Instituto Internacional de Gemologia (IGI). Mas, quanto tempo leva para produzir um diamante cultivado em laboratório? O tempo de produção de diamantes cultivados em laboratório pode variar dependendo de vários factores. Em média, semana(s) a alguns meses para produzir um diamante cultivado em laboratório, desde os estágios iniciais até a gema polida final. O prazo exacto depende do tamanho, qualidade e complexidade do diamante que está sendo produzido, bem como da tecnologia e processos específicos usados pelo fabricante de diamantes cultivados em laboratório. É importante observar que, embora o tempo de produção dos diamantes cultivados em laboratório possa ser menor em comparação com os diamantes naturais, o processo geral envolve cultivo cuidadoso e precisão para garantir que a qualidade e as características desejadas do diamante sejam alcançadas. Além do facto de que os diamantes podem ser cultivados em laboratório de acordo com suas necessidades, com formas, ou cores especificas de diamantes difíceis de serem encontradas no mercado. Em contraste, os diamantes naturais requerem processos geológicos complexos e as condições certas durante um longo período de tempo para se formarem em um ambiente natural, tornando-os raros e preciosos.
A nossa linha editorial assenta no relato de informação sobre o sector dos recursos Minerais (Não Petrolíferos) em Angola, com incidência nas actividades geológicas e minerais, nomeadamente, a prospecção, exploração, desenvolvimento e produção de minerais, distribuição e comercialização de produtos minerais, protecção do ambiente.
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